Jovens Conectados pelo desejo de Transformação Social

Com os grandes desafios espalhados por todo o mundo, quer sejam relacionados à educação, participação social, protagonismo, saúde, identidade de gênero, dentre outros, uma característica que está presente em todos é o enigma de como solucionar cada um deles, pois sem dúvida, muitas são as hipóteses levantadas para sanar essas problemáticas em questão.

 

Cada vez mais é possível perceber que os(as) jovens estão conectados(as) com o desejo de resolver os problemas na comunidade onde vivem e, dia a dia com os dilemas sociais, esse desejo só aumenta, fazendo-os(as) protagonistas na sua localidade de atuação. A Declaração Universal dos Direitos Humanos promove, por meio dos seus dispositivos, a responsabilidade a todos os indivíduos de zelar pela garantia dos direitos inerentes ao ser humano. Dessa maneira, muitos(as) jovens que buscam ser ativistas nas comunidades estão de maneira prática efetivando os artigos da norma internacional.

 

De maneiras distintas, jovens dos mais diversos Estados do Brasil assumiram o compromisso de zelar pela seguridade social, como por exemplo, o direito à educação, à saúde, e também a luta pela igualdade de gênero, luta pela garantia das cotas raciais e também pela inserção de adolescentes e jovens no mundo da pesquisa científica. Essas pautas refletem muito na construção da identidade dos(as) ativistas, pois permitem que os(as) mesmos(as) desempenhem diversas habilidades de autoconhecimento e o mais importante, a empatia.

 

Em pleno século atual, ainda há fortemente casos de fome, de evasão escolar, de injustiças contra as classes menos favorecidas, de injúria racial, de violência contra as mulheres, de violência contra a comunidade LGBTQI+, de crianças e adolescentes em situações de rua. Muitas são as mazelas que perduram por anos e causam crateras no desenvolvimento humano, mas há também uma geração que não mede esforços para lutar pelas garantias constitucionais.

 

Essa geração, cuja denominação nos dias atuais é “jovem Líder”, tem buscado atuar nas raízes desses problemas para cauterizar os desfalques que causam problemas graves no desenvolvimento humano e, de certa maneira, impede o progresso social. Mas quem são esses(as) jovens líderes? Onde podemos encontrá-los? Essas e outras perguntas que surgem quando debatemos a atuação dessa geração, nos convida a refletir sobre a origem desses(as) agentes de mudanças.

 

Em primeiro lugar, cabe ressaltar que não existem critérios para definir o perfil dos(as) jovens líderes, pois a essência de ser jovem líder é justamente não se limitar aos critérios pré-estabelecidos pela sociedade. A atitude de não se limitar aos conceitos impostos pelo contexto social é justamente uma ferramenta eficaz de solucionar as problemáticas, pois o(a) agente de transformação social deve ir muito além da limitação a qual a mazela social impõe. Ele(a), em sua atuação, estuda como o problema acontece, busca e sugere hipóteses que encaminha à raiz do mesmo e, na forma prática, essa atitude faz muita diferença.

 

Partindo da busca para conhecer o problema, os(as) jovens líderes têm buscado por mecanismos de absorver e compartilhar o máximo de conhecimento possível, como por exemplo, através da formação desenvolvida pela Latin American Leadership Academy (LALA), instituição que atua na América Latina com a finalidade de reunir jovens desses territórios que trabalham com impacto social. O programa, em síntese, oferta aos participantes uma formação densa direcionada aos assuntos de impacto social, com matérias lecionadas com enfoque nos assuntos sociais. Diferente de outras organizações que trabalham com impacto social, o LALA além de oferta a formação teórica, permite aos jovens que visualizem toda a teoria de forma prática, por meio de visitas aos institutos sociais que trabalham com impacto social, como por exemplo, o Instituto Favela da Paz, localizado em São Paulo (SP), que trabalha com públicos jovens de regiões periféricas com temáticas relacionadas a projetos científicos, construção da identidade e, além disso, desempenham também projetos relacionados à música como forma de manifestação social.

 

Com a finalidade de abordar uma situação real de jovens líderes que atuam no Brasil cabe, sem dúvida, trazer para o texto histórias de jovens que desempenham trabalhos sociais que foram conectados(as) pelo desejo de transformação social.

 

Marina Thaisa, do interior de Minas Gerais, participante da Latin American Leadership Academy 08, é jovem líder desde que se deparou com uma situação na sua comunidade. Como ativista, a mesma desde o início da sua trajetória carrega dentro de si a seguinte mensagem – “O lugar que a gente vive não deve nos limitar, mas incentivar a sermos pessoas melhores”.  Partindo dessa ideia reflexiva, podemos identificar que, para fazer impacto social, deve-se antes de tudo, verificar se estamos dispostos(as) a ir além das limitações. Atualmente, a jovem mineira trabalha em sua comunidade o Girl Up, movimento em prol da igualdade de gênero fundado pela Fundação ONU, que desempenha os trabalhos por meio de clubes, e o clube de meninas coordenado pela Marina foi o primeiro do interior de Minas a desempenhar as atividades da Girl Up. Marina destaca que buscar formação para trabalhar com impacto social é primordial, pois o espaço de formação como, por exemplo, a LALA possibilita um mar de opiniões e vivências com outros(as) jovens que trabalham com impacto social. Para ela, o segredo para resolver os problemas é justamente estar conectado uns com os outros. Acerca da iniciativa da Fundação ONU, o Girl Up, meninas de toda parte do mundo que desejam trabalhar com a temática de igualdade de gênero, podem participar e fundar um clube na sua cidade após os trâmites da fundação.

 

Os desafios de trabalhar com impacto social não se limitam apenas às áreas socioassistenciais, os desafios que assolam a sociedade vão muito além, chegando também à área da ciência e é por isso que abordaremos a história de uma jovem líder cientista.

 

Vitória Ventura, de 18 anos, estudante de Geologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), residente na cidade de Limeira, no interior de São Paulo, trabalha desde o ensino médio com impacto social na área da ciência, com o seu projeto sobre recuperação de cobre e níquel do lodo das indústrias de folheados para a produção de sais. A jovem cientista, incomodada pelos prejuízos que os dejetos estavam causando na sua comunidade reuniu-se em sua unidade escolar com colegas de classe, sobre orientação da sua professora de química, a fim de estudar meios e mecanismos para neutralizar as consequências oriundas dos resíduos gerados pela indústria. Após diversas reuniões e debates, os(as) jovens ativistas resolveram solucionar as mazelas oriundas do processo de galvanoplastia, processo este com alto teor de prejuízo ao meio ambiente. Em síntese, a jovem que coordenava o grupo de trabalho, desenvolveu no laboratório escolar um mecanismo de recuperação, em que se gerava o sulfato de cobre e o cloreto de níquel, sendo as mesmas matérias primas a serem utilizadas em outros processos. Apesar da benéfica feitoria do projeto de pesquisa, que consistiu em resolver um problema que assolava a cidade de Limeira, a jovem destaca que muitos foram os fatores para chegar aos grandes resultados, como, por exemplo, a premiação na Feira de Ciências e Engenharia (FEBRACE) e também na Feira Internacional de Ciências e Engenharia (INTEL ISEF). A jovem líder também participou da formação da Latin American Leadership Academy 08, sendo umas das 30 selecionadas para participar da imersão formativa nas áreas de impacto social. Além disso, cabe destacar que como descrito nos parágrafos anteriores, não existe perfil que caracterize um(a) jovem líder, mas há sim emoções que a maioria deles compartilha ao longo da sua trajetória, como, por exemplo, a ousadia, a coragem e a determinação. Vitória Ventura, no processo de construção do projeto de pesquisa, passou por sérios problemas na saúde emocional, tal como a luta contra a depressão, pois a então cientista que lutava para resolver um dilema na sua comunidade, de certa forma foi tentada a desistir dos seus projetos, porém, ser jovem líder é vencer desafios, quebrar barreiras e superar limites, como um deles, a vitória contra a depressão.

 

Atualmente, a estudante da Unicamp, trabalha em sua comunidade um projeto social que leva às escolas de ensino básico, palestras de incentivo aos alunos(as), com a finalidade de encorajá-los(as) a adentrar no mundo da pesquisa científica e instigá-los a serem agentes de transformação social. Ainda não limitada com os projetos que a mesma desempenha, a jovem líder pretende inserir na Unicamp um programa de Inverno, com a finalidade de realizar uma feira científica com jovens do ensino fundamental e médio, para proporcioná-los(as) uma vivência científica, com palestras e participação de pesquisadores(as) renomados(as), além de publicitar projetos de pesquisas que foram desenvolvidos ainda durante o ensino médio. Isso nos mostra que o impacto social pode ser visualizado nas mais diversas áreas da sociedade, com diferentes atores e realidades.

 

Os desafios na sociedade também são vistos na área educacional, causando em muitos casos sérios episódios de desigualdade e segregação, ambos praticados tanto pela sociedade em geral como também pelo Estado. Tratando-se da área educacional, especificamente no que se refere ao ensino superior, abordaremos a seguir um caso de impacto social na área da educação.

 

Guilherme Muniz, de 18 anos, morador da baixada fluminense no Rio de Janeiro (RJ), enfrentou diversos desafios para adentrar o ensino superior. Hoje, o jovem líder morador da periferia é estudante de Geografia na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), onde desempenha atividades relacionadas ao seu curso. Mas, ao analisar sua trajetória até almejar o ensino superior, o carioca destaca que passou por situações adversas, que sem dúvida faz parte do dia a dia acadêmico de jovens universitários(as) de baixa renda de todo o Brasil. Além disso, estar hoje na universidade representa para a sociedade que jovem negro também pode conquistar um espaço de poder, desafiando assim o estereótipo de que o(a) negro(a) nasce para ser bandido(a) ou para estar apenas em posição de servidão ou nos subempregos. Trabalhar com o impacto social dentro da unidade de ensino representa para o universitário um constante desafio, pois, ainda hoje, boa parte da população questiona o porquê do(a) jovem negro pertencer ao quadro de alunos nas universidades, revelando assim, que mesmo no espaço conquistado, é perceptível o pensamento arcaico e desprezível de uma parcela da população.  A temática que o jovem defende e que trabalha em sua comunidade foi fortalecida e aperfeiçoada durante o período de formação na Latin American Leadership Academy 08, uma vez que o jovem trabalha com o movimento educacional de inserir jovens negros na universidade, por meio de bate-papos e palestras. Vale registrar o pensamento do jovem líder: “temos que ocupar todo e qualquer espaço que desejamos, pois o lugar do preto, do pobre, do jovem de zona periférica é onde eles desejam”. Em síntese, o jovem trabalha em sua comunidade, temáticas relacionadas à comunidade carcerária, jovens em vulnerabilidade social e isso mostra que não há diretrizes de área para trabalhar impacto social, basta existir o desejo de transformação social.

 

Apesar das abordagens de impacto social, cabe salientar que existem outros exemplos espalhados pelo globo terrestre, com inúmeras iniciativas de sucesso, que certamente têm causando uma enorme diferença nas desigualdades sociais. Portanto, trabalhar com impacto social e ser jovem líder representa uma luta enraizada na ousadia, coragem, determinação e, não menos importante, não se limitar aos desafios.

   

Feito por: Vítor Cardoso Alves

CORIA Brasil  

Referências